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domingo, 29 de março de 2020

Vamos conversar?



A foto é de 2010, lá no início de carreira. Carreira que escolhi porque achava que tinha uma voz aqui dentro que poderia ser usada em favor das pessoas. Queria informar, entreter, esclarecer. Eu estava certo disso e todas as conversas com especialistas, testes vocacionais, gosto pelos livros e assuntos, tudo me levava a admitir que era de fato essa a carreira que queria para a minha vida. E foi uma das decisões mais acertadas que tomei. 

Mas queria fazer um desabafo, se me permitem. Emitiram uma ordem de caça às bruxas contra nós. De uma hora para outra, nosso trabalho começou a ser desqualificado, nossas intenções desvirtuadas e nossa atuação rebaixada com xingamentos e desqualificações que eu jamais seria capaz de pronunciar contra qualquer profissional, por respeito ao seu ofício. Por que? 

Por que de repente uma classe de trabalhadores presente nas decisões mais importantes desse país, de eleições a destituições, de crimes mirabolantes à rotina diária de violência nas periferias, do esporte ao carnaval, passou a ser hostilizada e reduzida a posições ideológicas-políticas, como se tudo que disséssemos fosse contra um e à favor de outro. Por que? 

Os ataques contra jornalistas nos grupos de WhatsApp e mídias sociais encarceram os debates. E esse rebaixamento é institucional porque em praticamente todas as falas do presidente e de seus subalternos, catequizam as pessoas contra nosso trabalho. 

Uma rede de comunicação que só fala o que o governo quer ouvir só acontece em países onde o estado controla a mídia, como Cuba, Irã ou Coreia do Norte por exemplo. Isso é censura, o maior ataque possível à democracia, segundo especialistas. 

Certa vez tive alguns dados sequestrados por um ataque virtual e logo liguei para um amigo da área de TI. Dúvida sobre medicamento, na hora aciono aquele amigo farmacêutico, e me consulto até por telefone com o amigo médico, mas nós jornalistas não temos mais o respeito técnico de anos de estudos. Qualquer posição de fala entra em competição nas redes sociais, contra qualquer fala de um jornalista. 

De repente, mais do que dar opiniões (isso é legítimo), somos confrontados por convicções de pessoas que de uma hora para outra se tornaram experts e especialistas em direito, política, antropologia, ciências sociais, infectologia, em comunicação… E me pergunto onde adquiriram em tempo recorde, com pouca leitura (ler a obra de um ou dois teóricos de cada uma dessas carreiras levaria anos), e sem se referenciar pelos noticiários todos “comprometidos”, tamanho conhecimento. De onde vem tanta convicção, tanta certeza, tanto conhecimento? 

Onde está o erro? 

Hoje temos em média 40 canais nacionais abertos (e dezenas de canais fechados) que empregam milhares de profissionais sérios, competentes, qualificados, que se dedicam à suas carreiras. A produção de conteúdo (TV) emprega milhares de trabalhadores numa cadeia de geração de empregos que além do fundamento econômico (as TVs não-públicas têm finalidade de lucro), garante o entretenimento dos brasileiros com participação importante na vida destes que estão entre os maiores consumidores de conteúdo de TV do mundo. 

O que deve acontecer? Não sei! 

Os tempos no mundo e principalmente aqui no Brasil ainda são obscuros. Mas queria fazer um convite à reflexão: Você, profissional que estudou, que investiu tempo, dinheiro e horas de sono na construção da sua carreira, faça um exercício imaginando que de repente você acorda de manhã e vê o mundo e os grupos de whatsapp de amigos e da família, rebaixando e desqualificando aquilo que lhe foi tão duro conquistar? 

Se coloque no lugar do outro. Sendo assim, fale contra um ou outro profissional, contra uma ou outra opinião mas não coloque tudo no mesmo saco e não promova esse ódio contra uma classe, uma emissora. Ser tão reducionista é um pensamento medíocre diante de um momento que exige de nós, inteligência. E uma dica: Exercite o senso crítico e convide um jornalista para conversar. Eu por exemplo, sempre estarei aqui disponível. 

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