Cá estou eu mais uma vez me desculpando pelo sumiço. Às vezes acho que essa coisa de acontecer tudo ao mesmo tempo e agora é só uma questão de fase e que daqui à pouco vai chegar um momento em que eu olharei da janela do meu quarto, mirarei o nada e me verei ocioso.
Por enquanto nem me lembro que meu quarto tem janela. A pouco me dei conta de que o condomínio cortou uma palmeira que fazia sombra na parede. Só dei falta dela depois de um mês. Isso e outras coisas relacionadas à correria me assustam. Tenho medo de me envolver demais nesse automatismo e perder os detalhes, que é onde a vida é mais interessante.
Tenho que dar conta (e essa é minha condição de vida) do meu trabalho (que amo mas que me consome pelo menos doze horas por dia), da minha faculdade (que só falta a monografia mas já estou emendando no mestrado), da minha família (que está dividida entre aqui, alí e acolá), dos meus projetos paralelos (muitos estão atrasados, parados ou mofando) e da minha namorada (que viabiliza tudo que eu dou conta de fazer), não necessariamente nessa mesma ordem.
E será que ainda sobraria um tempinho pra mim?
Pensando nisso resolvi me tratar e me desligar do automático. Ficar uns dias numa marcha bem lenta, sensitiva, contemplativa, quase que um tratamento de choque para retomar a capacidade dos sentidos. E como não poderia fazer isso dentro do meu habitat natural, programei uma viagem meio maluca, onde na verdade, programado mesmo (e pago com antecedência) só tinha três trechos aéreos e três hotéis. O resto ficaria a cargo das circunstâncias.
E assim, tô aqui, perdido no aeroporto Salgado Filho, por conta de uma escala que me permitiu esse tempo para escrever. A desaceleração começou com um banho demorado no meio da madrugada antes de embarcar em Belo Horizonte. A partir daí, eu já não me reconhecia muito bem.
Vou relatando aqui conforme for tendo tempo para escrever.
Ao som de Maná, Vivir Sin Aire.