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sexta-feira, 22 de novembro de 2013
Sempre haverá um pouco de nós espalhado por aí
Depois de muitos anos morando fora, ele chegou a voltar algumas vezes naquela mureta. Subiu a rua, as escadas. Veio fazendo o mesmo caminho desde a passarela da rodoviária. Não tinha mais os mesmos mendigos por alí, na Lagoinha. Ia brincando de jogo dos erros, não 7, mas dezenas deles, dando falta da passarela e da placa de Pneus OK.
Subindo a rua, a escadaria ainda era a mesma. A vista lá de cima também. Na verdade era outra vista mas ainda proporcionava o mesmo prazer em olhar para o nada, para a cidade indo daqui para alí.
Para completar aquela reprodução, faltava comer miojo e assistir MTV. Foi a primeira vez que fizera essas duas coisas naquele apartamento da tia do amigo.
Depois pegou um ônibus, para se perder e descer no ponto errado, como fizera daquela vez. Não conseguiu se perder. Reconheceu a igreja da Floresta quando passou pela porta. Também não soube onde teria que descer para refazer a volta à pé pela Savassi. Onde ouviu o primeiro samba na vida diretamente de uma roda de samba de verdade, de bar movimentado passou à lanchonete. E nem moças da vida perfumavam mais aquela esquina, agora clara e mal-cheirosa.
Não sabe mais precisar onde era aquela pizzaria da primeira pizza.
Fumou cigarro de hortelã. Mas o gosto parecia de cigarro sem hortelã. Baixaram a dose de hortelã?
- Alí tinha um orelhão.
Girou 360 graus. Baixou e subiu os olhos, os jogou para o céu. Quase rodou e tonteou. Sentiu apertar o coração. Isso é perda, isso é encarar o tempo, e fazer dele um ganho. Quis chorar mas como sempre acontece quando quer chorar, não consegue.
Então quis rir. E rir conseguia. Riu timidamente. Suspirou. E começou a descer as escadas. Vez ou outra olhava para trás para ter certeza que o tempo era outro.
E assim se despediu daquelas memórias da primeira vez que viera a Belo Horizonte, com dois dos seus melhores amigos.
Hoje aquela rua que quase não existe mais, é só uma lembrança boa. Por muito tempo foi a prisão num lugar bom para se visitar, mas ruim para se fazer moradia.
Às vezes é preciso voltar a alguns lugares aonde deixamos um pouco de nós.
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