Bom,
Semana passada me encontrei com um colega que esteve na minha formatura e me lembrou do meu texto de orador, fez alguns elogios e pediu uma cópia. Agora depois de tanto tempo, fui procurar o tal texto e relendo, acho que realmente ele tem coisas que mereciam ser jogadas ao vento, compartilhadas, publicadas, principalmente porque tem citação de João Cabral de Melo Neto. Assim, divido com vocês um fragmento desse momento tão importante na minha vida:
Caros colegas, professores, queridos pais e convidados. Se me permitem, gostaria de deixar uma pergunta sobre essa profissão outrora tão glamorosa e hoje tão desvalorizada por empregadores e pelo governo: E o Jornalista, o que é? Deixe-me tentar... O jornalista talvez seja aquele cara que acordou cedo por que a vida não pára e as coisas não escolhem hora para acontecer. Que se veste mais ou menos, que calça allstar, que finge entender de macro-economia, que escreve palavras bonitas, que passa ou perde horas no facebook e no twitter. Mas também é aquele que precisa tratar como factual, com coração miúdo, menor do que o furo de uma bala de 38 na testa daquele jovem lá do alto, do mais alto morro, notícias tristes... falas de desespero... tudo para que a informação chegue fiel aos fatos, como deve ser. Além de lutar contra um mercado exigente e seletivo, lutamos para salvar o da cervejinha, para conseguir mais espaço, para ser protegido por Deus na cobertura nossa de cada dia. Então me digam, com o máximo de sinceridade possível, sem choro ou com choro legítimo, mas sempre com orgulho, “de que é feito o jornalista?” É feito de coragem de subir morro, de paixão pela leitura, de manobra de tempo curto, prazo curto, grana curta. Pelo amor de Deus, me digam de que é feito esse “bicho” jornalista? Pelo amor de Deus e dos sóis, dos brilhos eternos, dos sobreviventes de bala perdida, dos micos-leões-dourados que estão acabando, pelas crônicas da Martha Medeiros, pelos que vivem e pelos que morrem, pelos com e pelos sem razão. Não sei. Acho que o jornalista é esse cara que estagiou fora da área, que pegou ônibus lotado, que só tinha grana para a coxinha, mas que não deixava de comprar o bombom que aquela amiga vendia para ajudar no orçamento. Deve ser esse cara que sonhou com esse momento aqui, da família reunida aplaudindo aquela pessoa que acordava cedo para ir para o estágio. Mas agora essa pessoa sai cedo mas com o currículo debaixo dos braços, por que até o fim do dia, da semana, do mês, do ano ou quem sabe da vida, esse sujeito eu, esse sujeito nós, vós, eles, vai conquistar um emprego decente, fazendo o que se preparou para fazer. Somos, como escreveu João Cabral de Melo Neto em Morte e Vida e Severina, “muitos Severinos, iguais em tudo na vida: na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas, e iguais também por que o sangue que usamos tem pouca tinta”. Obrigado!Texto do orador Nelio Souto da Silva, formando do curso de Comunicação Social - Jornalismo com ênfase em Multimídia, Centro Universitário UNA Turma 2/2011.
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