Não sou esportista mas como brasileiro, patriota e pessoa da comunicação que sou, gosto de esportes. Consumo produtos da indústrias esportiva, vou ao estádio, participo de freqüentes resenhas na hora do almoço e mesmo não sendo o típico fanático, tenho minhas participações no assunto em rodas de amigos.
Com o mesmo nível de interesse e sem me sentir um indiferente, acompanhei minimamente as olimpíadas de Londres. Li sobre no jornal, ouvi no rádio e assisti na TV. Mas (não sei se isso faz de mim uma pessoa muito diferente) não tive meus dias mudados completamente de rotina por conta do evento.
No meu trabalho tenho uma TV do lado e minha mesa fica bem na curva de passagem e circulação das pessoas. A TV é compartilhada principalmente entre eu e dois colegas, além de algumas pessoas que passando por alí, se sentem atraídos por alguma cena ou comentário em alguma programação, mas nada além de uma espichada de pescoço.
O fato é que durante esse dias de olimpíadas a TV ficou ligada o tempo todo nas competições. Foi como se tudo tivesse parado de acontecer. Nem o julgamento do mensalão teve espaço. Grupinhos se formavam na frente da minha mesa, de frente para TV, vibrando, torcendo, papeando. Bastava eu me levantar para apanhar um café e quando voltava perdia minha cadeira, ocupada por algum técnico que escalava até a seleção de basquete. E eu pensando, meu Deus como sou ignorante, não sei nem o nome do atleta que defendeu o Brasil no remo (ou no doping).
Bom, com toda dedicação dos que pararam o mundo (seu mundo) durante os jogos, toda essa força inóspita produziu um resultado horroroso. Na minha modesta opinião (clichê), faltam políticas públicas para o incentivo ao esporte. Tenho um amigo que é educador, professor de educação física e diretor escolar lá na minha pequena Jacuri, onde o único incentivo público, se é que podemos chamar disso, é o ensino de educação física obrigatório nas escolas (com professores preparados?). No mais, não acredito que nenhum garoto daquele sertão todo tenha alguma motivação ou sonho de se tornar atleta, se depender do governo.
Li estarrecido que o Brasil gastou mais de R$ 2 bilhões para mandar nossos atletas às Olimpíadas (que produziu esse tremendo fiasco) entre apoio, leis de incentivo e patrocínio de cerca de umas sete empresas. Atletas aposentados mas com grandes patrocínios (marcas) precisaram aparecer por conta do marketing e anônimos chegaram com pouco incentivo. Cielo justificou a vitória do francês: “Fez a prova da Vida dele”. Quer dizer que não era mais a de Cielo.
As mulheres do futebol lamentavelmente derrotadas pelas japonesas e depois foram festejar fazendo compras, alegremente pela cidade, como vimos em fotos no portal UOL, como se nada tivesse acontecido. Kissya Cataldo, no remo, não chegou a disputar, pega preventivamente no antidoping. O vôlei (nossa grande esperança) também amargou derrotas e o basquete feminino nem se fala.
Agora uma informação que não vi publicada nos jornais: Três de nossas medalhas vieram de forças militares. Se não me engano duas do exército e uma da aeronáutica, de campeões que treinaram sem salários ou academias patrocinadoras mas nos clubes da própria corporação. Pessoas que voltam de Londres heróis porque assim o são todos os dias.
Que bom que acabou! Agora já posso assisti a outras coisas na TV, falar de outros assuntos na cantina quando for apanhar um cafezinho e ninguém pára mais na minha mesa, já que julgamento de mensalão nem dá ibope.
Boa consciência a todos, nesse país do esporte, mesmo sem títulos ou medalhas.
2 comentários:
Uma pena esse tipo de texto não sair em capa de jornal. Muito bom!
Belíssimo!
O meu mundo também não parou, mas eu vesti a carapuça e nos intervalos das aulas, corria pro twitter pra ver os resultados dos jogos...
Me deixa triste o julgamento do mensalão não dar ibope, mas me deixa ainda mais triste não termos políticas públicas que incentivam o esporte, já que, na minha opinião, o esporte é uma das únicas formas de livrar os nossos jovens e crianças das drogas.
Mais um belo texto... estava com saudade de te ler!
Beijos!
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