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terça-feira, 13 de setembro de 2011

"Sempre Afonso"

Foto: Divulgação

A primeira vez que fui a um "Sempre um papo" foi numa ocasião em que eles receberam o César Souza. Foi um momento muito importante para mim, que tinha chegado à pouco do Rio de mudança para Belo Horizonte e precisava de uma palavra de incentivo, precisava me localizar nessa cidade que tinha deixado de ser minha por oito anos. Apesar do preconceito assumido que tinha com publicações e gurus de auto-ajuda, o papo com o César me deu uma boa dose de ânimo. Na ocasião, cheguei a fazer o post Lançamento do Livro "O caminho das Estrelas" de César Souza no blog, que lido três anos depois, achei até legalzinho.


Nessa mesma época, trabalhava no Nova Suissa e estava no início da faculdade de Jornalismo. Para economizar grana na época de vacas esqueléticas, ia do trabalho à Praça da Liberdade, onde ficava minha faculdade, à pé e no caminho ouvia às 18:00 na Rádio Guarani, o programa MondoLivro, o "blog sonoro da Literatura". O programa sempre me instigou a ler mais e mais que isso, a viver literatura. Me lembro até hoje de várias edições, como a que tratou das peculiaridades das assinaturas de autógrafos de Vinícius (de Moraes) ou Drummond ou das que apresentavam nomes da literatura cubana. Me sentia uma pessoa culta ouvindo o MondoLivro.


A voz que apresentava o programa tinha cara, ou melhor, timbre, de poesia, ou de literatura, dependendo do meu astral no dia. Às vezes estava para "uma pedra no meio do caminho" e às vezes para "não sou alegre nem sou triste: sou poeta".


Um dia, passeando por uma festa junina no Cidade Jardim, me encontrei com um sujeito numa barraca, a própria gentileza em pessoa, de fala miúda e tímida, quase sussurrada. Trocamos meia dúzia de palavras enquanto aguardávamos nosso pedido na fila de cachorro-quente. Sabia que conhecia aquele sujeito de algum lugar e não poderia deixá-lo ir embora assim, tão rápido. Independente de não saber de onde, reconhecia nele um gênio que me parecia familiar (sem querer ser). À medida que a fila andava, o assunto rareava e eu ia perdendo a chance de "fazer amizade." Ele, de lanche numa mão e mão de criança na outra, ajeitou os óculos no rosto e se despediu, com um "até dia desses".


Fui para casa encucado se aquele não seria um autor ou cineasta famoso. Não sabia. De madrugada, acordei no meio da noite para tomar água e com a mente mais vazia, liguei o nome à pessoa: o cara da festa junina era o mesmo cara que apresentava o "Sempre um papo." Joguei no google só para me certificar e ligar o nome à pessoa, e tive uma surpresa muito agradável: três pessoas que tinham me causado profunda admiração, eram na verdade a mesma pessoa: Afonso Borges, que também era quem apresentava o MondoLivro.


Depois disso, até arriscava um cumprimento de vez em quando, quando passava por ele no Palácio das Artes, com um aceno de mão ou com a cabeça. Um dia atingi o máximo da minha audácia e mandei um e-mail, gentilmente respondido. Me deu medo de ter muita intimidade e de descobrir que o Afonso não fosse quem eu achava que ele fosse. Parei de tietar, mas sem jamais perder um encontro (Sempre um papo). Dizem que com os gênios tem disso. Se você se aproxima muito, eles se mostram normais e iguais a nós. Não me agradaria a ideia de saber que o Afonso seja igual a mim. Nesses "Sempre um papo" da vida, tive o prazer de ver o Carlinhos (Herculano, um dos meus mestres do Vale do Rio Doce e quase conterrâneo), Bárbara Heliodora (vou poder dizer às gerações futuras que vi, falei e abracei a vovó), Carpinejar (para mim, o maior escritor do meu tempo), Leda Nagle e tantos outros grandes nomes.


O "Sempre um papo" está comemorando 25 anos de existência e o Afonso é o culpado disso. Experimentei um dos momentos mais "arrepiantes" da minha vida: Afonso reunindo numa mesma banca os escritores Frei Betto, Leonardo Boff, Fernando Morais, Luis Fernando Veríssimo (que nunca fala e nem viaja, mas não poderia recusar um apelo do Afonso), Ruy Castro, Heloísa Seixas e Zuenir Ventura. Uma homenagem foi feita ao Afonso, que recebeu uma placa (eu daria logo a cidade inteira. Afonso, quer o Jacuri (minha cidade) pra você?).


Fica aqui registrado então meu agradecimento ao Afonso, pelo favor que ele prestou (e presta) à cidade, à cultura, à Literatura e a mim. Que ele continue assim, bom, tímido e sonhador, "Sempre Afonso", com o perdão do clichê.


Vida longa, Afonso!


2 comentários:

Anônimo disse...

Pô Fiote, sou um ignorante literário, não sei se é culpa minha ou se por falta de estímulo na infância! Mas sempre leio seus textos e fico com um misto de admiração, emoção e orgulho!

PARABÉNS!

Estou fazendo parte do crescimento e dos GRANDES do nosso tempo, pode ter certeza, continue FIRME E FORTE, pois vc está no caminho certo!

Forte abraço do seu irmão do Cerrado Federal!

Paulo Roberto Gonçalves

Camila Sol disse...

A tempos ando querendo e não animando em ir. Acho que você me incentivou!
E um dia eu ainda vão falar: "espero que Nelio Souto não seja igual a mim.". Sucesso pra ti! Beijo