Um artigo publicado na revista "Alfa Homem" que acabou de chegar às minhas mãos, me chamou bastante atenção por tratar de um assunto que sempre me deixou meio incucado. Cresci aprendendo a tratar médicos como seres acima do bem e do mal, donos da verdade absoluta e controladores do nosso bem mais precioso: a vida.
Com o tempo, fui me tornando mais crítico e de quebra acabou que passei a conviver mais próximo deles e seus ambientes de trabalho, principalmente depois que minha mãe foi submetida a um tratamento mais sério, que culminou inclusive numa cirurgia. Entrando e saindo por dias a fio de um hospital em horários e situações diversas, acabou que o diálogo entre esses "seres alvos", se estreitou e passei a vê-los como pessoas normais e inseguras (quase iguais a mim, diga-se de passagem).
Depois tive também o prazer de ter amigos e conhecidos estudando medicina, fato que desmistificou de vez a áurea dos doutores.
Mas voltando ao assunto que abre esse post, o artigo, usando referência de publicações do jornal médico "The Lancet", chama a atenção para o fato de que médicos, principalmente em formação, terem alto índice de consumo de drogas (maconha, cocaína, LSD, ecstasy e anfetaminas). A pesquisa diz que 11% fumam maconha com frequência e até 13% dos entrevistados dizem fazer uso de anfetaminas, ecstasy, cocaína e LSD, além de bebidas alcoólicas, frequentemente.
Relacionados diretamente com esses dados ou não, assustadores 45% das mulheres e 21% dos homens têm níveis altos de ansiedade e depressão e 17% de ambos admitiram fazer uso indiscriminado de "benzodiazepínicos", que são os famosos remédios para dormir.
Bom, mas por que esses dados me chamaram a atenção? Se por um lado, foi bom descobrir que os médicos são seres humanos normais, inseguros e defeituosos como todos nós, por outro lado, saber que eles, com conhecimento de causa do que faz mal à saúde, estão tão contrários ao que pregam, me assusta muito.
No artigo, o autor diz que os médicos, talvez mais que em outras profissões, se sentem muito pressionados e "se frustam facilmente diante da necessidade de realização e reconhecimento". Só eles?
Para botar uma pilha no assunto, penso que talvez essa frustração seja por eles não estarem preparados para perder um pouco da "glamourização" que sempre houve em torno do seu "à fazer" endeusado. Se antes o médico era o senhor da linha vida/morte, hoje algumas terapias apresentam caminhos de conduta para evitá-los (aos médicos). Outro dia uma grande amiga comentou que suas amigas estão trocando o endocrinologista pelo nutricionista.
Tá, mas embora confesse que essa "piração dos doutores" me assusta, ainda é neles que deposito minha confiança, principalmente se as "outras" terapias falharem.
Indico o artigo do Dr. Sérgio Timerman, publicado na "Alfa Homem" de junho, onde o autor toca inclusive em outros assuntos relacionados à profissão. Vale a pena conferir.
Dedico essa postagem ao meu amigo de infância, mais novo médico da freguesia, Wendel Garcia, um grande orgulho para mim que ainda acho que médico tem um quê de "ser superior". Ou não.