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quinta-feira, 25 de novembro de 2010
hoje, meu verso sincero, de uma dor tão grande, é teu
tá, na prática eu entendi: preciso aceitar que alguém que eu conheço a pelo menos 25 anos, se foi para sempre. mas queria saber o que eu faço com as lembranças, com a importância que essa pessoa sempre teve na minha vida?
tá, eu sei que é um processo natural e que minha condição de reles humano me impõe tal fato, mas o que eu faço com as conversas que nós ainda não tivemos? o que eu faço para apagar da memória esse mal fadado dia, que começou tão bom, tão amigo, e de repente sou arremessado contra essa pedreira? (que é como eu me sinto exatamente agora).
logo cedo, combinei de almoçar com o lé (leduardo), que estava de passagem por bh. ele vem pouco aqui e de repente estávamos relembrando histórias do passado, falando de tantas coisas boas que vivemos, falando "dele". um dia no meio da semana em que de repente eu, sem me programar, almoço com um amigo de infância que vejo pouco, de fato não poderia ser um dia qualquer... e não era. o telefone toca e chega a notícia que eu não queria receber...
o que fazer? (comigo, com a notícia, com o lé, com o almoço que eu ainda ruminava na boca?)
não sabia no que pensar, como agir. queria apenas me encostar na parede, deitar no chão, na calçada, no canteiro... queria me diminuir, para ver se assim a dor também diminuia. não havia o que dizer, não havia o que escutar, não havia o que fazer, estava tudo acabado. acabado coisas já começadas, que estavam em andamento e que sequer haviam começado. tudo acabado.
nenhum plano poderia mais ser feito, como a festa que a gente estava bolando pra reunir o pessoal do colégio, como meu cavalo que ele havia ficado de buscar em itamarandiba pra mim e adotá-lo, aquela exposição que nós não iremos. (entendeu nelio, não irão. nunca mais)
isso é que mais me dói. essa partida que não dá chance, não dá trégua, não deixa voltar, nem que fosse por mais um pouquinho. algumas horas, alguns minutos, alguns segundos de papo e eu me daria por satisfeito. mas não...
e o que eu faço com o convite dele pra minha formatura? (o lugar dele estava reservado). não há quem possa levá-lo, não há onde encontrá-lo, não tem mais "dele".
e o que falo para minha namorada, que só o conheceu de ouvir falar? "amor, você não o conhecerá mais. ele partiu e não volta."
que partida é essa, meu deus, tão sozinha, gélida, escura... que você embarca num lugar onde o tempo tira sua cor de pele, tira seu físico, sua própria pele, e decompõe, dissolve, faz virar pó...
e quem fica, faz o quê? chora, sofre, como único recurso (como se isso trouxesse de volta a presença...).
não! eu não estou preparado para essa ausência.
o que virará o número de telefone, as roupas, a letra (tão desenhadinha), a camisa do galo, o boné, as botas... a história?
as lembranças, meu deus! o que eu faço com as lembranças? (com quem irei compartilhá-las?)
nos tornamos amigos no pré-primário. além de uma pinta no queixo, outros detalhes também o fazia diferente. ninguém sorria daquele jeito, com tanta vergonha. acho que pra ele, sorrir e estar nu tinha a mesma carga de exposição. e isso (se expor) não era seu forte.
tudo que ele queria era passar despercebido. com uma única excessão, quando inacreditavelmente subiu num palco, na terceira série, fazendo dupla com o dedéu, e de roupinhas iguais cantaram "pense em mim", de leandro e leornardo. não ganhamos a gincana mas ganhei essa lembrança que me é cara, por que eu sabia que jamais o veria num lugar tão alto de novo (no palco. ele tinha medo de altura). se eu fechar os olhos por alguns segundos, a cena vem fresquinha na memória.
depois aprendi a pilotar um walk machine com ele. ninguém tinha um walk machine. ele tinha.
depois da quinta série, o bicho pegou. a tal de geografia e história "pegou". pelo menos três horas de estudos diários. levou semanas para decorar "mao-tsé-tung" e na prova esquecia (ficava nervoso). foi quando desenvolvemos uma técnica um tanto mais prática para garantir que passaríamos os dois de ano.
tínhamos a mesma letra, igualzinha. ele passava horas copiando coisas do meu caderno, treinando, a ponto de nem um legista dos bons conseguir identificar qual letra era de quem (eu acho). nem eu reconhecia. pelo menos acredito que até o presente post nenhum professor havia sacado que ele assinava meu nome e eu o dele, nas provas. um bimestre eu tirava notas boas, no outro ele. nós dois passávamos.
ele foi o primeiro a comprar minha briga quando fizemos uma camisa de formatura com a frase de legião urbana (mesmo sem nunca ter ouvido legião urbana. gostava de sertanejo): "o sistema é mal, mas minha turma é legal". fomos proibidos de entrar na escola com a camisa.
(acabei de notar que já escrevo "ele" no passado)
foram tantas histórias... daria tudo pra ouví-lo ao menos mais uma vez dizendo seu "quê que cê tá arrumando?"... significava "eu prefiro mais te ouvir do que falar" (sempre foi um ótimo ouvinte).
não que eu esteja contestando a deus, longe de mim fazê-lo, mas... o que deve fazer uma mãe acometida por uma fatalidade que nega a lei natural das coisas? (quando uma mãe não deveria enterrar um filho)...
entendo que nem sempre a vida toma seu curso natural (talvez essas coisas devessem servir para provar que nossa condição humana é tão frágil...). nos achamos tão grandes, tão fortes, porém, é nessa hora que percebemos que, ao contrário, não somos nada, não temos nada. somos como grãos de areia, ínfimos frente a esse grande esquema que é a vida, que dita seu jogo e nos transpassa sem pedir licença...
tenho muito a dizer, mas não mais por hoje. hoje, só quero que esse dia acabe, que essa dor acabe, que essa saudade que já é muita, aplaque.
tá, eu entendi, ele se foi. mas por aqui, eu o manterei vivo, presente, amigo de sempre. não resolve, mas talvez amenize a falta, pelo menos por hoje. amanhã, já não sei. tomara que o tempo leve pelo menos um pouco dessa dor e deixe apenas as boas lembranças, que são muitas.
rodrigo, hoje meu verso mais sincero, que eu tiro de uma dor grande, é teu. vai em paz, meu caro. aqui fica alguém que vai te celebrar a cada segundo que tiver de vida. te prometo!
Rodrigo Alves Gonçalves *26/08/1981 - †25/11/2010
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4 comentários:
"Se as pessoas estão sempre indo e vindo, eu só queria alguém minimamente eterno em sua duração, que me fizesse parar de achar normal essa história de perder as pessoas pela vida." Verônica H.
... tem dias que a gente não sabe muito o que dizer. Acredito que qualquer palavra nunca será equivalente ao tamanho de sua dor...
Sem querer ser clichê, eu te digo que vai passar. Eu sei que sim...
E fora da dor, lhe restarão apenas todas as lembranças; essas tão bonitas, que me deixaram com lágrimas nos olhos ontem e hoje, mais uma vez, ao ler...
um beijo.
Débora
bom, gostaria de deixar registrado aqui o contato que recebi de um grande amigo de infância, que não via a pelo menos uns 17 anos. o contato se deu depois que ele leu esse post. me contou que ficou muito chocado com a notícia do rod e deixou palavras carinhosas pra ele. não pude publicar o comentário por que continha informações de contatos, que não tinham como ser editadas. o sumido por esses anos todos é hudson moreira, que chegou a estudar com a gente, se não me engano, até a quinta série.
obrigado, hudson, pelos elogios, pelas palavras e pelo conforto.
abraço!
Os meus mais sinceros sentimentos. O corpo se vai, o espírito volta a Deus e pra nós, resta-nos as eternas lembranças e o amor que fica guardado no coração. A dor vai passar, mas o amor... bem, esse é eterno. Fica com Deus. Pense: nesse mundo tão hostil em que vivemos, ele está melhor do que nós. Abraço saudoso.
É eu tbm sinto mto a falta dele..olhe por nós Rod, sentiremos mto sua falta e lembraremos d vc em cada segundo das nossas vidas..
fique em paz...
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