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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Encontro Marcado com a chuva


Sábado à tarde, se chover, vou tomar um banho de chuva. Quero água correndo pelo meu rosto para disfarçar minhas lágrimas.

(É, não tenho costume de chorar, por isso choro assim, com data e tarde marcadas, desde que chova.)

Quando a vontade de chorar é muita, também choro no banho, mas não gosto. Banhos foram feitos para se lavar o corpo e não a alma.

Quando fico assim, fico escravo das lembranças, aquelas doces lembranças de laços que um dia foram bem dados.

E se eu me mudasse, se fugisse para um lugar, não de mentira, nem de verdade, de meias verdades talvez?

Pasárgada, onde pudesse ser amigo do rei? Não. Tenho alguns amigos-rei por aqui que talvez sentissem ciúmes, e com razão. Imperdoável trocar os reis daqui, presentes, companheiros, irmãos, pelos reis de lá de onde nem sei onde é (e nem quem são).

E essa vida-elevador segue, subindo, descendo, parando, enchendo e esvaziando. E com tanto entra-e-sai, fica a gratidão com quem passa.

Gratidão pela mãe do colega, tão carinhosa, que faz pratos tão maravilhosos pra me receber num final de semana fora de hora. Daquele amigo, que mesmo de longe, acompanha meus passos, meus escritos, meus tweets. Daquele outro que dá bom dia online com tanta descontração, que o dia acaba cedendo e sendo de fato bom...

E essas coisas todas vão compensando tanto descaso, tanta incompreensão, tanto egoísmo, enquanto a vida vai se tornando cada vez melhor nos detalhes cada vez mais simples.

Obrigado a quem compartilha comigo dos seus melhores momentos. Minha vida acaba se apropriando deles, que passam a ser também, meus. Até me esqueço do assunto de que tratei no início desse texto. Talvez eu nem vá mais ao encontro que marquei com a chuva, sábado à tarde.

8 comentários:

Liv Milla disse...

Eu também não gosto de chorar no banho...
Muito bonito o seu texto, meu amigo-poeta!

Camila Sol disse...

Chorara na chuva eu nuca chorei, mas ta ai um programa que eu nunca tentei. Poderia ir com você?
mas eu ainda prefiro ver você sorrindo, ver o Nelio "Souto" que tanto me fez crescer...
Por mim, pessoas como você nunca deviam chorar, por trazerem alegria a tants pessoas (ou pelo menos pra mim trouxe muitas), mas as vezes é necessário. As lágrimas nos fazem pensar e até mesmo reagir contra a maré.
Espero que o programa de sábado a tarde mude, mas se realmente for e quiser cia...estou aqui.

Beijo.

Débora Gomes disse...

Se tudo amanhecer como hoje, talvez nem chova sábado. E de acordo com a previsão do tempo (se é que podemos acreditar nela), o período chuvoso termina na quinta-feira próxima ou amanhã, pra ser ainda mais exata.
Sabe (e eu acho que você sabe), quando vejo as pessoas que amo tristes, fico ainda mais entristecida que elas, porque pra mim, na minha cabeça, essas pessoas merecem sorrir todos os dias, porque são esses sorrisos que me trazem ânimo e que iluminam os dias e as noites. Fico feliz em saber que em meio a tanto desconsolo e ingratidão, algumas pessoas e coisas ainda consigam trazer um pouco de bom pros teus dias, seja num bom dia ou numa delicadeza e gostosura que a gente sabe que só mãe consegue ter...

Talvez, se ela não tiver um encontro marcado com outro alguém, em outro lugar, seja bom pra você se deixar sentir a chuva... às vezes, a gente só precisa mesmo disso: essas coisas simples que nos aproximam tanto da gente mesmo e nos faz sentir mais limpos, mais claros, mais fortes.
E sempre, mas é sempre mesmo, resiste um abraço pra quando a chuva passar e o sol quiser descansar. A gente só precisa aprender a ver...

Natália Oliveira disse...

Uma coisa que achei engraçado nesse texto é que geralmente quando vamos escrever algo, sintetizamos uma pequena história na cabeça com começo, meio e fim. Acho que de alguma forma construimos, ainda que em nosso cérebro, um argumento do futuro roteiro e mesmo que este seja um pouco diferente do que pensamos no argumento tende a ter uma ligação com as idéias expressas nele. Quando eu leio esse seu texto eu vejo algo diferente, parece que você começou uma história que, por sinal, me pareceu bem triste e depois sentiu que poderia ter um afago para sua dor e a história foi sendo construida na medida do que você ia escrevendo sem seguir a uma idéia inicial, “o argumento”. Pode ser piração da minha mente, mas foi o que senti ao ler, fiz uma analise quase semiótica. Isso é o bonito dos textos cada um interpreta de um jeito e só a gente sabe o que escreveu. Eu nunca vou saber, com certeza, o que você quis dizer. Mas interpretando o que senti ao ler, quero te dizer meu amigo que quando precisares de um ombro para um afago conte comigo. Nos dias de chuva posso levar uma sombrinha para que seus olhos não se contagiem com as gotinhas de chuva e bom amigo a vida é assim mesmo dá umas rasteiras na gente, tem que saber ficar triste e procurar afagos nas nossas pequenas alegrias, porque mais importante do que saber enfrentar a dor é viver com um certo conforto que só pode ser encontrado dentro da gente. Os outros nos ajudam com afagos, mas a nossa alegria e o nosso bem estar num pode ser projetado nos outros, mas sim dentro dos nosso coração. De qualquer forma amigos são importantes, conte comigo sempre tá. Um abraço, pelo tamanho do comentário nem precisa dizer que adorei o texto né. Beijo, amigo.

João Killer disse...

Opa meu amigo, acredito que assim como as lágrimas e a chuva, você deixou muitos sentimentos transbordar aqui. Belíssimo texto. Acredito que aqui você retrata realmente nossos dias, onde as pessoas entram e saem da nossa vida constantemente, mas algumas marcam com sutilezas e muita simplicidade. Aqui você consegue retratar como o ser humano está ficando frio e longe dos sentimentos. É triste saber que até o choro às vezes é “escondido”, afinal o que dizer pro curioso que deseja saber o porquê das lágrimas que às vezes não passa de desabafo da alma? Bom te ler, bom ler sentimentos em humanos!

m disse...

Graças a Nati e Debora eu acabei lendo esse texto, concordo com o comentário da Nati. Mas digo mais, o seu texto acabou fazendo algo incrível, a forma do texto acabou sentindo o conteudo, o texto começou triste, e aos poucos foi se tornando alegre, consolado, devido ao fato de você comentar os amigos que te rodeiam que foi o que você disse no texto.

Não sei se foi proposital, acredito que não, são coisas inexplicáveis que acontecem.

Bom te ler

Matheus Botarro disse...

Não comento nunca, mas esse nao resisti, pois se tratando de agua escorrendo (lágrimas), se precisar sabe onde me encontrar.

Nelio Souto disse...

Caramba, melhor que escrever é voltar tanto depois e ver os comentários... É como se não fosse eu quem escreveu...

Pode deixar Matheus, você sempre presente né brother... Abraço!