Não queria muito mas queria uma coisa difícil de atender, nesse mundo tão complexo, de pessoas complexas e complicadas. Não, o que queria não era complexo. Complexas eram (são) as pessoas, entende?
Queria coisa simples.
Queria dividir. Dividir comentários, livros, filmes, papos, uma cervejinha num bar aprazível, suas muitas histórias de longe, aquele espetáculo Cult e profundo, o prefácio do livro que está lendo e o resumo daquele que lera três vezes. Queria dividir amigos... Tanta coisa, que de tanta chega a ser inumerável.
Aprendera a dividir desde muito novo. Ainda muito pequeno deixara de ser filho único e chegara o irmão. Dividir no início não era tão fácil. Se sentiu rejeitado quando o primeiro irmão chegou. Sofreu. Para aplacar o sofrimento, criou personagens para lhe fazer companhia, que por muito tempo ficaram guardadas no passados e nesses últimos dias, se apertar um pouco ele é capaz de confessar, tem vontade de trazê-las à superfície.
Dividir não é tarefa fácil, mas depois de aperfeiçoada a técnica (sim, é uma técnica) é difícil viver sem aplicá-la. Já chegara à instância de dividir sonhos... Acho que nem tenha mais nada que seja só seu.
Mas inacreditavelmente rejeitaram sua dádiva da divisão e seus sentimentos (rejeita-se de tudo nessa vida, principalmente panfleto na praça Sete e sentimentos).
Não quiseram mais – ou talvez nunca quiseram de verdade – sua presença e seus adicionais (comentários, livros, filmes, papos, uma cervejinha num bar aprazível, ...).
Outro dia, numa comemoração, alguém perguntou o porquê mas ele não soubera responder. Sério, ele não sabe, como também não sabe de tantas outras coisas. Não sabe por exemplo escalar a seleção brasileira de cabeça e nem sabe quem sugerir no lugar do Grafite.
Seria por isso? Mas se fosse ele aprenderia. Já aprendeu tanta coisa! Adora aprender e tá sempre aprendendo.
Ainda ontem aprendeu a viver sozinho. Não que ele seja uma pessoa só, muito pelo contrário, mas é por uma questão de garantia. Vai que ele precise. Nunca se sabe quando se precisará de um gato siamês (gatos são mais fáceis de cuidar do que cães e mais adequados para um apartamento minúsculo) com quem passar texto ou para quem declamar Drummond.
Também aprendeu a ter amigos de longe, de outros mundos, principalmente. Depois de ler “Laços de Família” e “A hora da estrela” visita Clarice sempre que pode. Drummond? Não dorme sem um dedinho de poesia com ele. Seu quarto tá que é amigo pra todos os lados. Amigos tão dóceis e presentes que, às vezes fica sem graça por que não sabe o que fazer pra retribuir tanta docilidade e gentileza.
Uma vez por mês reúne todo mundo e promove uma espécie de faxina. Quer colocar Florbela Espanca no evento mas ainda não tivera muita intimidade com ela para tal. De repente Liv possa estreitar o laço entre eles, já que certa vez ela lera um poema da Florbela numa aula do Seba. É, lia-se poemas nas aulas de interpretação do Seba.
Falando em Seba, parte da ensandecida paixão que ele tem por poemas, aprendera com Seba. Foi com Seba também que ele pisara pela primeira vez num palco para declamar poesia. Fizera leitura de Drummond e tudo. É, fora anonimamente importante.
Ah! Tanta coisa que ele fora, que vivera e que ficou no passado. Alguém já disse que recordar é viver e ele sempre vive recordando e se recorda vivendo. Isso é o que compensa, na verdade, depois de se tornar uma pessoa que divide, divisora, em seu mais alto grau pecaminoso.
Por hora ele tem dividido espaços, pequenos é bom alertar. Alguém pode acusá-lo de dividir o que não tem. Esse aqui é um deles.
A cama? Não, a cama ele ainda não está dividindo. Ainda.
Com a licença dos musicalmente diferentes (e viva a diferença!), ele deixara, pra finalizar esse post uma singela homenagem à essa que vira e mexe se faz presente, insubstituivelmente, como deviam ser as pessoas: MINHA ESSÊNCIA. Ops! A esssência dele, quero dizer.
“Eu quero apenas” é uma canção que minha mãe cantava quando eu era criança. Hoje, tantos anos depois, eu continuo querendo apenas...
8 comentários:
Um texto realmente cativante...ainda admiro seu lirismo ao escrever.e de uma sensibilidade impar. Espero sempre encontrar mais textos como esses aqui.
Um tanto quanto emocionante as palavras... um tanto quanto saudosista... e um tanto quanto, digamos que estimulante. estimula-se a pensar , na vida, nas pessoas, em nós.
Pelo Texto, meu caro amigo, posso lhe dizer duas palavras:
Obrigado e Parabéns.
que lindo, Nelio!
amei, amei, amei. *-*
Se não soubesse o quanto você ainda é jovem, pensaria que Deus o criou junto com as palavras, tamanha sua intimidade com elas...
Maravilhoso
Danielle
dividir... uma das mais belas artes da vida que tornaria tudo mais simples, se as pessoas não fossem tão ocupadas e o mundo tão corrido ao ponto de ambos, se esquecerem de praticá-la...
... me lembrei da conversa que tive com esse moço do texto, que passo a gostar ainda mais, a cada pedacinho novo que descubro dentro dele... a cada dia.
Hoje, eu quero apenas ver um sorriso no rosto dele e estar por perto sempre! pra sentir num abraço que vai ficar tudo bem e que enfim, o 'só' não existe mais.
Eu preciso aprender a não querer dividir...podemos combinar assim, te ajuda a dividir, você me ajuda a não dividir... que tal?
Só um adendo... eu nunca li Florbela Espanca na aula do Seba, acho que confundiu... Infelizmente, o poema de Florbela que está no meu espetáculo de formatura, por mais que seja "meu", não serei eu quem dirá... Mas fiquei feliz em ver que meu nome faz parte da história dele...
Porque tudo que ele foi, fora preparado para que se tornesse o que ele é... e hoje ele é muito mais especial do que antes... =)
Concordo com o Marcos, o texto é realmente cativante. As palavras parecem ter sido escritas com o coração, carregadas de sentimentos, doce. A solidão é realmente triste e dividir é uma das coisas mais belas. Mas sabe moço, a complexidade da vida está realmente nas pessoas. As vezes as pessoas são individualistas demais para pensar nos outros.Mas tem sempre alguém pra dividirmos algo, nem que seja um sorriso. Foi bom te ler. =)
Ae Nélio, fodassa o texto, nos faz pensar cada vez mais e mais, evouirmos e continuemos por dividir, e tanto apenas quanto basta para vivermos sem cair nesse cotidiano engolidor de sapos calados. ta certo rapá.
tamo junto...
Rodrigo Porto
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